sábado, 13 de maio de 2006

Auto-retrato.

É um rosto na multidão, um rosto iluminado, aconchegado por cabelo, castanho-mel, irreverente e com uma vontade imensa de ocultar os olhos. Olhos esses, também castanhos e nos quais se nota, ao mesmo tempo, um grande sentido de responsabilidade e uma pitada de loucura, que são realçados por pestanas reviradas e escuras sobrancelhas. Na testa, o seu intitulado “Triângulo das Bermudas”, a única lembrança de um triste Verão, marcado pela varicela. Nas orelhas, sempre um par de brincos, baloiçando ao som das músicas, que, ao longo de manhãs, tardes e noites, insiste em entoar. Nas faces rosadas, já correram muitas lágrimas, resultantes de exaustivas gargalhadas. No nariz, pequenas sardas – lembranças de dias ao sol, na praia de Moledo. Nos lábios sempre um sorriso, acentuando todas as características do rosto. O queixo marcado por uma queda aos 4 anos.
O pescoço é o começo de um misto de simplicidades e diferenças, que se mantêm ao longo de todo o tronco. Braços firmes, que terminam em mãos pequenas e unhas roídas por uma ansiedade sem sentido. Pernas, não tão longas como desejado, acompanham um andar determinado e acelerado. Os pés, se possível, estão despidos e, livremente, correm sobre as pedrinhas do terreiro onde tanto tempo passou.
Por vezes, a sua persistência ultrapassa-a, transforma-se em teimosia e rapidamente perde todo o encanto. No entanto, não deixa de se esforçar por triunfar, e graças a essa persistência, consegue quase sempre. A alegria “cola-se" a ela do momento em que acorda, até que se volta a deitar. Por vezes, resolve fazer intervalos, deixando-a desamparada, mas apesar de tudo, Margarida continua a viver…e a sorrir.



Margarida Feijó
13-05-2006

Sem comentários:

Enviar um comentário