sexta-feira, 30 de junho de 2006

Vozes.

Não, não estou a ouvir vozes dentro da minha cabeça. É apenas um pequeno espaço dedicado a todas as vozes que me aconselham. Acabam sempre por me baralhar ainda mais, mas são vozes extremamente atenciosas, que merecem ser ouvidas.


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe


Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...


Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos,
arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...


Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


Cântico Negro, de José Régio
Não vou afastar as minhas vozes, apenas quero dizer que há decisões que tenho que fazer sozinha, e quantas mais vozes, mais difícil se torna essa tarefa.
Margarida Feijó
30-06-2006

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Dúvida do dia.


Perdoem-me o erro no título, pois as dúvidas são mais que muitas. O pior (ou o melhor, dependendo do ponto de vista) é que apenas uma é "essencial", as outras, vêm por acréscimo.
Então cá vai: avançar na vida, com problemas pendentes no passado. ??. Deve-se ou não?
(Perdoem-me mais uma vez, mas vou ter de falar em linhas gerais para ser mais sucinta. Pôr nomes baralha muito.)
As pessoas dizem-me que devo avançar. Mas, com assuntos pendentes, não sei se deva. Até porque, se houver, nem que seja ínfima, a hipótese de resolver os ditos assuntos, posso alterar o caminho que iria percorrer, caso avançasse demasiado cedo. É um assunto para manejar com cuidado.
Relativamente aos problemas... Tantas opiniões! Cada um diz da sua justiça, mas acabam de se formar dois grupos à minha volta. O grande e impetuoso grupo do "Anda para a frente. Esquece. Salta para outra" e o pequeno e discreto "Conversa. Precisas das pessoas. Tenta resolver tudo." Há uma maioria, mas não sinto que deva ir com ela, visto que é formada por opiniões mais pessoais. A pequena minoria, é a "voz da razão", que eu, há uns tempos, não queria ouvir, mas que neste momento faz muito mais sentido.
Quero agradecer a todas estas vozes. Este choque de ideias à minha frente faz-me pensar, e, acima de tudo, faz-me bem, pois podendo às vezes as pessoas parecer mais brutas, é apenas porque, lá no fundo, se preocupam comigo. Obrigada Vozes.
Já estou farta de formular hipoteses do que pode acontecer, dependendo dos caminhos que tomar. Se ficar aqui, no era e não era, andava lavrando, será que tenho hipótese de remediar as coisas? Será que devo remediar as coisas? QUERO remediar as coisas? Complicado.
Já concluí que sem tomar esta grande decisão, não tomo mais nenhuma. Preciso de pistas!
Agora, se andar para a frente, é mesmo sem olhar para trás, e esquecendo uma existência de 5 anos passados. Começar uma nova vida, com novas pessoas. Renascer. Abrir um novo capítulo. Mas será que estou preparada? Voltando à questoão do destino (ver Revolta.) será que o destino me deixa avançar, ou vai continuar a atravessar à minha frente certas e determinadas pessoas? Nesse caso, quer dizer que errei ao avançar e que tenho outra hipótese de remediar as coisas?
É uma decisão a ser tomada só por mim, mas, sinceramente, não estou a conseguir. . .
Estrelinhas do meu caminho, AJUDEM-ME! Borboletas e BigFoot's, ajudem à festa. Preciso de uma mãozinha!
Margarida Feijó
29 e 30-06-2006

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Tu...

... que me fazes pensar.
... que me fazes a cabeça em água.
... que me deixas triste.
... que me fazias feliz.
... que num minuto me ignoras.
... que noutro minuto lembras-te de mim.
... que não te exprimes.
... que não dizes tudo.
... que és indiferente.
... que me deixas na dúvida.
... que me fazes chorar.
... que me fazes sorrir.
... que me abandonaste.
... que não estás aqui comigo.
... que não me deixas dormir em paz.
... que surges, clandestino, nos meus sonhos.
... que eu vejo viver sem mim.
... que eu vejo sofrer sem mim.
... que eu gostava de ajudar.
... a quem eu gostava de contar tudo.
... a quem eu não posso contar nada.
... que acordas as minhas boas memórias.
... que adormeces os meus fantasmas.

Sinceramente, tu deixas-me sem palavras.


Margarida Feijó
28-06-2006

domingo, 25 de junho de 2006

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades..

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saüdades.

O tempo cobre o chão verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se casa dia,
outra mudança faz de mór espanto:
que não se muda já como soía.

Luís de Camões
Só mesmo nas férias é que me dá para pegar no livro de Português. Abençoadas férias e abençoado livro!

Vai-te poesia.

Para a Marta, que me quer encher de poesia!


Vai-te, poesia!

Deixa-me ver friamente
a realidade nua
sem ninfas de iludir
ou violinos de lua.

Vai-te, poesia!

Não transformes o mundo
descarnado e terrível
num céu de esquecer
com mendigos de nuvens
famintos de estrelas
e ferias a cheirarem a cravos
- enquanto os outros, os de carne verdadeira,´
uivam em vão
a sua fome de cadelas
e de pão.

Vai-te, poesia!

Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste plantea feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noite para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olho,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te , poesia!

Não quero cantar,
Quero gritar!


Vai-te, poesia! de José Gomes Ferreira
Vivam as aulas de Português!
Muito obrigada por poesias tão moldadas a mim!

terça-feira, 20 de junho de 2006

It always takes a little help from someone.



O mundo é feito de gente. A gente é feita de carbono e azoto e tudo o resto. Porque é que há tantas diferenças? Ah, e tal, é a natureza! Pois, eu as diferenças naturais e genéticas eu até entendo. O que eu não entendo são as diferenças que as pessoas criam, inventam, não se sabe bem por que motivo. O problema é que quem as cria, rende-se a elas. É horrível. Depois as pessoas acabam afastadas, por vezes pacifica e naturalmente, por vezes chateadas, graças a diferenças forçadas e subordinantes.
As pessoas são esquesitas por natureza. Esquecem-se do que têm à sua disposição e resolvem agir como se isto fosse o tempo dos australopitecus, ou mesmo a escola primária. Em vez de se comunicar normalmente, grunhe-se um bocado, amua-se não se dá explicações. Ou entao, apenas um seco "não quero mais ser tua amiga". É muito mais fácil, como é óbvio! O problema é que a sociedade actual se habituou a comunicar, e a prestar satisfações aos insatisfeitos. A consequência é que estes australopitecus actuais se juntam em bandos enormes para nos massacrar. Uns perfeitos paus-mandados. Por vezes questiono-me acerca das opiniões próprias. Será que todos as têem? Será que só alguns é que têem e os outros limitam-se a imitá-los? Ou como é que é? Somos formigas grandes, e o que nós fazemos é seguir a formiga da frente? Bem, de uma maneira ou de outra, decidi abandonar o carreiro. A formiga-mãe vai ter que se desunhar sem mim.

O que nos safa neste mundo doido, são aqueles diferentes iguais a nós...essas estrelinhas, que nos guiam, e ajudam quando precisamos. Aquelas pessoas que estão sempre lá, mesmo que não estejam. Aquelas com as quais sabemos que podemos contar. Por isso mesmo, antes de agradecer a mais alguém, quero agradecer à minha estrela Martinha, por estar sempre aqui dentro, mesmo que não esteja aqui fora. Também um obrigada às borboletas da minha vida. Sim, essas pessoas que passaram pacificamente, mas que deixaram boa impressão, e um pequeno rasto de felicidade atrás de si. Por fim, aos BigFoot's do mundo, que insistem em passar, deixando grandes pegadas, ou, por vezes, pisando os outros. Definitivamente, todos me marcaram, e daí este obrigado alargado. Aos bons, aos maus, aos assim-assim, aos lembrados, aos esquecidos, aos que estão perto, aos que estão longe...Obrigada Mundo!
Margarida Feijó
22-06-2006

sábado, 17 de junho de 2006

Ser Lusitano.


Ser Lusitano... é ser descendente de Viriato, de D. Afonso Henriques, D. João Mestre de Aviz, Nun' Álvares Pereira, Vasco da Gama, Diogo Cão, Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Gil Vicente e de muitos outros, que não me ocorrem de momento... (não devem estar por ordem cronológica, visto que sou nula a História, mas fica a ideia)

Ser Lusitano é ter uma História para contar, uma Revolução para lembrar, uma Tragédia para chorar.

Ser Lusitano é ter honra e orgulho em tudo o que é Português. É apoiar a nação, incondicionalmente, abdicando do que for preciso pelo bem da mesma.

Ser Lusitano não é só pôr a bandeira na varanda, ou na janela, durante os campeonatos de futebol.

Ser Lusitano implica o honrar o grandioso passado, mudar do turbulento presente, e criar um melhor futuro.

Ser Lusitano não é ficar sentado à espera que os políticos resolvam as crises.

Já dizia Luís de Camões:

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram Novo Reino,
que tanto sublimaram.

Ser Lusitano é lutar.

Ser Lusitano é sentir saudade.

Ser Lusitano é ser único.


Margarida Feijó
17-06-06

quinta-feira, 15 de junho de 2006

Divagações de uma mente perdida.





Hoje sugiro que visitem utopiabw.blogspot.com - segundo a autora, significa Utopia Better World, mas gosto de considerar Utopia Black and White. Não por ser mais "politicamente correcto" mas se o mundo real é feito de cores, porque é que a Utopia também não o pode ser?


Hoje é feriado - Corpo de Deus. Fui baptizada, mas fiquei por aí. E hoje, chego à conclusão que não sei o significado deste feriado. Deste, e de muitos outros. E como eu, também muita gente não deve saber. Mesmo assim, não deixa de ser um feriado para mim e para todos esses. Hoje, não há pessoas na escola, e poucos são os que trabalham (se calhar, trocaram com outro feriado, do qual também não sabem o significado. Quem sabe? É possível!). Nunca pensei, mas todos os religiosos practicantes devem sentir-se injustiçados. E, de certa forma, têm razão. Eu também me sentiria injustiçada. No fundo, estamos a "celebrar" algo que não nos diz nada, rigorosamente nada! Simplesmente, não tem lógica.


Margarida Feijó
15-06-06

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Quando a chuva passar.

P'ra quê falar, se você não quer me ouvir?
Fugir agora não resolve nada.
Mas não vou chorar, se você quiser partir.
As vezes a distância ajuda.
E essa tempestade um dia vai acabar.
Só quero te lembrar,
De quando a gente andava nas estrelas,
Nas horas lindas que passamos juntos.
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza
A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar.

Quando a chuva passar,
Quando o tempo abrir,
Abra a janela e veja,
Eu sou o Sol.
Eu sou céu e mar.
Eu sou céu e fim,
E o meu amor é a imensidão.

Só quero te lembrar,
De quando a gente andava nas estrelas,
Nas horas lindas que passamos juntos.
A gente só queria amar e amar
E hoje eu tenho certeza
A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar.

Quando a chuva passar,
Quando o tempo abrir,
Abra a janela e veja,
Eu sou o Sol.
Eu sou céu e mar.
Eu sou céu e fim,
E o meu amor é a imensidão.

Quando a chuva passar,
Quando o tempo abrir,
Abra a janela e veja,
Eu sou o Sol.
Eu sou céu e mar.
Eu sou céu e fim,
E o meu amor é a imensidão.

Ivete Sangalo - Quando a Chuva Passar

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Viver sempre também cansa.

Viver sempre também cansa

O Sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Masnunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecâncico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofaada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Qundo viessem perguntar por mim,
havias de dizer com o teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acrodar
a Morte ainda menina no meu colo...


"Viver sempre também cansa" de José Gomes Ferreira, in Militante

Revolta.

Sinto-me revoltada.
A vida é mais difícil do que eu pensava, e isso "come-me" por dentro. Era bom... ir vivendo, e deixar viver...mas não o podemos fazer. No nosso subconsciente, há algo que nos diz que temos que mudar as coisas. Mas porquê?

E as pessoas?
As pessoas são estranhas, não expõem as suas verdadeiras intenções. Deixam-me baralhada.
É muito confuso ser-se pessoa, principalmente pessoa em formação. São muitas coisa, e falta de tempo (talvez até por nossa culpa).

E depois, há o medo. O medo que se sente quando se está a recuperar de uma queda: o medo de cair outra vez, ou pior, que nos empurrem. Um medo que nos persegue, todos os dias, quando menos é preciso, principalmente, ao fim de variadíssimas quedas.

Por fim, o destino. Será que existe? Será que afinal, aquele poder que o Homem tem de alterar o seu percurso é apenas uma forma de nos sentirmos bem connosco próprios? Será que quer escolhamos o caminho A ou o caminho B, iremos sempre dar ao ponto C? É obvio que ambos os caminhos apresentam os seus obstáculos... mas chego a conclusão que, se não tivesse sido assim, se calhar tinha sido de outra maneira, mas o resultado seria o mesmo. "If it wasn't this, it'd be something else." E volta o medo. Será que afinal não tenho assim tanto poder sobre o meu caminho? Estou dependente do caminho dos outros?

A vida é muito complicada. Preciso de tempo.

Margarida Feijó
09-06-2006